sábado, 13 de setembro de 2008

Aqui nasceu Portugal: Protocolos e Afins



Hoje em dia, parece que está na moda acordar protocolos de cooperação nas mais diversas áreas. No que diz respeito a questões de relações internacionais e política externa, por exemplo, o que seria das relações comerciais entre países sem esse tipo de acordos? Contudo, esta prática não é exclusiva dos corredores da Diplomacia. Em quase todos os sectores de uma economia dita moderna, esta prática é recorrente, pois muitas vezes acaba por ser a única maneira de algumas empresas, com menor índice de competitividade, sobreviverem à dura, e muitas vezes desleal, concorrência que enfrentam. Como é do conhecimento geral, o mundo do futebol não foge à regra.

Hoje em dia, são muitos os clubes que se associam entre si, normalmente num contexto regional ou nacional, com vista à potenciação do seu crescimento de forma mais sustentada, sem correr tantos riscos como correriam se estivessem por si sós. É normal ouvir-se falar de protocolos ao nível da formação de jogadores, por exemplo. O Clube A possui uma "escolinha" de futebol que costuma até formar uns jogadores com potencial. Contudo, as dificuldades económicas são imensas e o clube, com receitas escassas, não consegue suportar as despesas do dia-a-dia. Surge então a ideia de se associar ao Clube B, mais rico, poderoso e influente na sua região ou país. Rapidamente, o Clube A atribui ao Clube B o direito de opção sobre os supostos craques lá formados, a troco de uma verba que os permita enfrentar as despesas do dia-a-dia, de um qualquer jogador emprestado, ou então, como aconteceu aquando da transferência de Tiago Targino para Guimarães, de umas bolas ou outro equipamento desportivo. Passadas duas ou três épocas, o jogador que o Clube B emprestou ao Clube A já regressou à procedência há muito, sem que o Clube A visse qualquer compensação pelo facto de ter valorizado o jogador. Os jogadores enviados do Clube A para o Clube B valorizaram imenso, pelo facto de terem enorme margem de progressão e são vendidos por balúrdios a um qualquer clube estrangeiro. O Clube B paga os respectivos direitos de formação ao Clube A (uma pechincha, quando comparada com a verba pela qual o jogador foi vendido), metendo ao bolso uma "pipa de massa".
Moral da História: o Clube A continua a ter dificuldades financeiras, pois a escassez das receitas continua a não permitir investimento, logo, a única escapatória consiste em continuar o acordo celebrado com o Clube B. Este, por seu lado, continua a abastecer-se de jovens talentos por uma pechincha no Clube A , sendo que, por força da sua maior visibilidade, continua a vender esses jovens, à posteriori, a clubes estrangeiros, por mais umas "pipas de massa". O Clube B continua rico e grande, enquanto que o Clube A continua pequeno e pobre, completamente dependente do suposto "bom samaritanismo" do Clube B.
Normalmente, e salvo raríssimas excepções, são estes os moldes dos protocolos e afins entre clubes que coabitam no mesmo "espaço competitivo". Obviamente que o crescimento do Clube A não serve os interesses do Clube B, pois acabaria com as ditas "pechinchas em sentido único" que exemplifiquei há pouco. Melhor dizendo, um Clube grande nunca se alia a um do mesmo nível, pois os seus interesses acabam por se esbarrar, invariavelmente. Por outro lado, estimular uma relação destas com um clube menor traz os seus frutos, e de que maneira. O Clube grande acaba por controlar o crescimento do clube mais pequeno, acabando por nunca permitir que os interesses dos mais humildes se sobreponham aos seus.

Peço desculpa por me ter alongado nos parágrafos anteriores, a sério! Contudo, esta exposição era estritamente necessária para que a maioria das pessoas compreendesse o alcance da maioria destes protocolos.

Depois de um defeso atribulado, no qual o nome do Vitória andou constantemente "colado" ao do Benfica por questões de secretaria que são do conhecimento geral, foi anunciado pelo Sr. Emílio Macedo da Silva, Presidente do Vitória, o estabelecimento de um Protocolo entre estas duas instituições.
Na altura de tal anúncio, verificou-se a transferência de dois jogadores dos quadros do Benfica para o Vitória de Guimarães. Luís Filipe seria emprestado por uma época e Nuno Assis assinava um contrato definitivo com o nosso clube, sendo que certos rumores apontam para o facto de o Benfica continuar a pagar os seus ordenados (ou uma percentagem deles), durante um certo e determinado período de tempo. Até aqui, tudo bem….
Contudo, e antes que nós, sócios do Vitória Sport Club tivéssemos conhecimento do conteúdo do acordo, verifica-se a saída de um dos mais promissores jovens das nossas camadas jovens directamente para a equipa congénere do Benfica. Tendo em conta que o protocolo é recente, parto do princípio que o jovem Cafú será apenas o primeiro de muitos miúdos a ter como destino aquele estádio da segunda circular, enquanto que o Vitória continuará a receber cá por empréstimo uns "jogadorzecos" do clube do milhafre. Quem sabe se, num futuro próximo, não será o Vitória a próxima paragem de um qualquer Binya ou outro cêpo do género?

Tudo isto serve apenas para transmitir um pequeno recado à direcção do nosso clube. Enquanto a direcção do Vitória Sport Clube não se mostrar predisposta a esclarecer os sócios, de uma vez por todas, quanto à natureza deste acordo, irá estar a dar cobertura a toda e qualquer especulação que surja em torno deste assunto.
Antes de mais, nenhum acordo deste género deveria ser celebrado sem dar conhecimento aos sócios ou sem aferir sobre a sua opinião no que concerne a este assunto. Com esta postura silenciosa, como quem teme a crítica, a direcção do Vitória está a sonegar aos seus sócios informações preciosas quanto ao rumo que os destinos do clube estão a ter. Hoje em dia, os sócios do Vitória não sabem de que maneira é que o clube está a crescer, nem sabem, pelo menos pela boca da direcção, qual é a estratégia que existe para assegurar a continuidade do crescimento sustentado do clube. Para quem se dizia adepto da "transparência" e paladino da "honestidade", não é este, concerteza o caminho a tomar.

Não quero com isto dizer que Vitória não se deva relacionar com outros clubes. Bem pelo contrário, pois disso dependerá o nosso futuro crescimento. Agora, para nos relacionarmos com alguém, convém escolher criteriosamente os nossos possíveis parceiros.
Sou manifestamente favorável a parcerias com clubes do concelho ou da região, por forma a estimular não só o crescimento do Vitória no seu contexto regional, mas também de maneira a estimular o crescimento de outros clubes, muitas vezes órfãos de apoios. Nesses casos, além de poder vir a ser o maior clube da região, o Vitória poderia também exercer o importante papel de dinamizador e estimulador do crescimento dos outros. Bem vistas as coisas, todos ficariam a ganhar. Já para não falar do facto de existir, no nosso concelho e região, toda uma tradição de bons jogadores de futebol.
Por outro lado, seria também viável o estabelecimento de acordos deste género com outros clubes de outros países. Nesse cenário, o Vitória teria todas as condições de se tornar numa boa plataforma para jovens jogadores oriundos de outras realidades europeias, em busca de um clube aliciante para ajudar a projectar a sua carreira. Perguntar-me-ão os leitores então, porquê aceitar acordos destes com clubes estrangeiros e não com algum dos ditos três grandes de Portugal? A resposta é simples. O crescimento dos clubes estrangeiros nunca chocará de frente com o nosso crescimento. O Vitória não partilha o mesmo campeonato, logo, o nosso crescimento não constitui uma ameaça para eles. Para Benfica, Porto e Sporting, o Vitória é, e sempre será, uma enorme ameaça.

Enquanto o nosso clube mantiver estas posturas de subserviência perante aqueles que, na verdade, nos temem, veremos sempre o nosso próprio crescimento ameaçado.

Cabe à direcção do Vitória fornecer aos sócios um esclarecimento cabal sobre esta matéria.
Cabe-lhes também fazer algo para inverter esta situação em tempo útil, antes que seja tarde demais.

Manuel Aspinall

in www.vitoria1922.com
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http://www.vitoria1922.com/

2 comentários:

Pedro Silva disse...

Ninguém mandou a Direcção do Vitória fazer um Pacto com o Diabo. Agora aturem-no.

Vitoria1922 disse...

www.vitoria1922.com

Vitoriaaa Sempre <3